sábado, 3 de maio de 2008

História para contar com uma foto


Ontem resolvi aproveitar o dia claro, no meio desse feriado chuvoso, e tirar algumas fotos para o ensaio fotográfico sobre graffiti que estamos preparando.

Fui na avenida Jornalista Roberto Marinho, zona sul de São Paulo. No cruzamento com a avenida Berrini tem uma favela com alguns graffitis. Não sei quantas pessoas pintaram o lugar, mas alguns desenhos estão assinados pelo Mundano, grafiteiro que já tem marca em vários muros da cidade.

Cheguei lá cheia de medo. Tirava algumas fotos e já escondia a camera, olhando para os lados, com receio de alguém chegar e tomar ela de mim. Passei por baixo do viaduto e vi alguns meninos cheirando cola. Eles não deram a mínima se eu tinha uma máquina fotográfica ou não. Ao contrário, eu é que fiquei impressionada, triste, e não parei de prestar atenção neles.

Resolvi subir no viaduto para ter uma visão mais ampla da favela. Estava fotografando lá de cima quando um menininho apareceu no cenário da minha foto. Lá, do outro lado da rua, no meio dos barracos de madeira. Eu perguntei se podia fotografá-lo e ele me respondeu com um jóia. Se animou todo e chamou mais dois meninos, que deviam ser irmãos. Fizeram pose, pediram para eu tirar mais fotos, davam risada e perguntavam se estava ficando bom.

Estavam lá, tão felizes por serem fotografados, mesmo em cima de uma pilha de lixo e entulho. E eu não posso negar que eles tinham razão, estavam lindos até mesmo nessa paisagem.
Algum tempo e fotos depois, eu decidi ir embora. Dei tchau de longe, agradeci, vi os três sorrirem para mim.



Saí de lá com o coração pesado, apertado. Eles nunca vão ver o resultado das minhas fotos e eu nunca vou sentir a felicidade que eles sentiram por serem fotografados de surpresa enquanto brincavam no quintal de casa.

4 comentários:

Lica disse...

Talvez para eles bastava só serem vistos e admirados. E para nós bastou a história para se pensar.

Bjo

Guilherme Schildberg disse...

uma foto dura um segundo. nem sempre.

Anônimo disse...

A foto ficou linda mesmo!
Aquele pedaço da "Espraiada" mostra exatamente isso: o contraste da favela com os prédios altos e relizentes da Beirrini.

A nova ponte da Marginal Pinheiros mostra o quanto São Paulo pode oferecer em tecnologia e, ao mesmo tempo, embaixo dela crianças com fome cheiram cola.

Larissa Rosa disse...

Oops!
Fui eu que comentei acima.